Terremoto foi o golpe final
Os mortos começam aos poucos a serem retirados dos escombros em Porto Príncipe. Voluntários escavam com pás ou com as mãos. Depois eles são cobertos com um lençol e colocados na calçada. Os passantes levantam o lençol para ver se é algum conhecido. Mas em vez de depois seguirem adiante, alguns param e ficam ao redor. Compram balas, cigarros ou medicamentos dos vendedores ambulantes e olham para os mortos, que por pouco não são eles mesmos.
Hans Jaap Melissen
Os holandeses Huub e Thijs Olthof, pai e filho, também se viram para olhar para a carroceria de uma caminhonete. “Vocês viram o que eles tentaram fazer? Queriam jogar os corpos na minha carroceria”, diz Kees de Heer, motorista da caminhonete. Kees achou que já tinha visto de tudo no país onde vive desde 1983. Agitação política, furacões, falta de alimentos. “Mas isso é pior que tudo. Estou arrasado. Como é que o Haiti irá se recuperar de um golpe destes?”
Adoção
Kees ofereceu aos Olthof um lugar para dormir, depois que o hotel em que estavam hospedados ruiu. Os três estão a caminho do hotel para ver se há alguma informação sobre um casal holandês que está desaparecido, provavelmente soterrados, junto com as crianças que tinham acabado de adotar.
Chegando ao Hotel Therese, parece que pouca coisa aconteceu. “Tiramos um norte-americano dos escombros”, conta o gerente do hotel no estacionamento. Mas os holandeses ainda não foram encontrados. Acharam apenas um laptop e duas máquinas fotográficas que, provavelmente, pertenciam ao casal.
Destruição cruel
”Inacreditável este caos”, diz Huub Olthof, caminhando até a piscina, onde pedaços de uma bola azul-marinho flutuam. “Pouco antes do terremoto eu estava sentado aqui.” Na tela de sua câmera digital, ele mostra uma foto da piscina, com o hotel ao fundo. Uma imagem alegre, que poucas horas depois seria cruelmente destruída.
Huub espera conseguir o mais rápido possível informações sobre os holandeses. Mas ele sabe que as chances de que tenham sobrevivido são muito pequenas nesta montanha de escombros. Thijs ainda tem outra preocupação. Ele teme que o governo haitiano não lide de maneira cuidadosa com os corpos encontrados. “Espero que os times de resgate prometidos pela Holanda cheguem logo a este local.”
Vivos e mortos
Começa a escurecer. Com a chegada da noite, outros corpos aparecem nas ruas, também envolvidos em lençóis. Mas quem olha bem vê que eles se mexem. A maioria dos haitianos por enquanto não tem coragem de dormir em casas e edifícios. Eles se deitam nas calçadas, às vezes muito próximos dos outros lençóis. Durante a noite, os sobreviventes e seus mortos voltam a se reunir.
Fonte: Rádio da Holanda
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