O que há de tão mau em um Rolex falso?
Perro de Jong
06-04-2009
Em um mercado de Atenas, a capital grega, os vendedores ambulantes Ronnie, de Bangladesh, e Morris, da Nigéria, vendem suas mercadorias por alguns trocados.
"Às vezes dez, às vezes quinze, às vezes cinco euros", diz Ronnie. "E há dias em que a gente vende por um euro. Mas eu não vejo a diferença entre os originais e as cópias." E Morris completa: "Não estou cometendo um crime. Não é como se eu estivesse matando alguém."
Bilhões de euros
Morris compra seus DVDs falsos de um depósito administrado por um grego. Os relógios, bolsas e óculos de sol falsos também vêm de lá. Produzidos em massa na Ásia, muitas vezes nas mesmas fábricas que produzem os originais. Logomarcas falsas são despachadas separadamente e colocadas na Europa.
De acordo com um relatório da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, produtos falsificados custam à União Europeia dezenas de bilhões de euros todos os anos. E enquanto imigrantes como Ronnie e Morris estão acostumados a serem pegos pela polícia e terem seus bens confiscados, pegar os chefões gregos de quem eles compram a mercadoria é muito mais difícil.
Vencendo a polícia
Os chefes em geral operam em vários países e, embora a Europa supostamente trabalhe unida nestes casos, isto costuma ser um problema.
O TM Eye é um órgão de defesa de direitos autorais holandês com escritórios na Grécia e em outros países europeus. O diretor Ron Veraart diz que não pôde fazer muito no primeiro ano e meio na Grécia porque a polícia não permitia que o TM Eye se envolvesse em batidas contra falsificadores.
O observatório proposto pela Comissão Europeia pode ajudar a superar este tipo de obstáculo, oferecendo uma ampla plataforma de cooperação.
Pobres grifes?
Mas por que Bruxelas se preocupa com as reclamações de grifes caras como Gucci e Rolex? Afinal, as pessoas que compram os produtos falsos não teriam mesmo dinheiro para comprar os verdadeiros.
Ron Veraart discorda. "Pegue como exemplo os relógios Rolex. Há tantas falsificações que, quando você vê alguém que usa um Rolex, você se pergunta se é de verdade. Isso causa um dano irreparável à marca."
Mas mais importante que o dinheiro perdido pelas grifes, segundo Veraart, é o dinheiro ganho pelos criminosos, que o usam para bancar atividades como o tráfico de drogas, prostituição e trabalho infantil.
E para muitos consumidores que ainda acham que é uma boa ideia comprar um Rolex ou Gucci falso baratinho, agora que a crise econômica está pegando, Veraart tem mais uma consideração: "A maioria dos produtos falsificados entra ilegalmente nos países em que são revendidos, o que significa que não estão de acordo com as normas de segurança. O metal usado num Rolex falso às vezes contém mercúrio ou outras substâncias tóxicas que podem ser absorvidas pela pele. Os consumidores não veem este perigo."
Indústria brasileira também
perde bilhões com a pirataria
Mariângela Guimarães (com agências)
De acordo com estimativas da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), a indústria da moda no Brasil perde cerca de R$ 6 bilhões por ano com as cópias ilegais.
Na Holanda, por exemplo, onde as sandálias Havaianas, fabricadas pela Alpargatas, são muito populares, pode-se encontrar cópias dos chinelos brasileiros em quase todos os mercados de rua.
E o prejuízo total para a indústria brasileira de moda pode ser ainda maior, porque a cifra de R$ 6 bilhões não inclui a cópia legal - aquela que não é crime porque o produto imitado não estava protegido pela lei. A falta de proteção com o registro de marca, patente (no caso de invenções com aplicação industrial) ou desenho industrial (para roupas e acessórios) torna os produtos brasileiros vulneráveis à pirataria em outros países.
Menos emprego
Segundo dados da Universidade de Campinas e do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal, a pirataria gera, por ano, no Brasil, uma perda de R$ 30 bilhões em impostos e dois milhões de postos de trabalho deixam de ser criados.
Na área de softwares, estudos da Business Software Alliance (BSA), demonstram que se o Brasil reduzir a pirataria em 10% ao longo de 10 anos, serão gerados 11 milhões de empregos e US$ 390 milhões em receita.
"Só combatendo a pirataria é possível garantir uma competição justa no mercado", afirmou recentemente o ministro da Justiça Tarso Genro. "Precisamos fazer também um trabalho educativo para acabar com a tendência cultural de se comprar produto pirata por causa do preço", destacou o ministro.
Internet
Após a invasão de camelôs vendendo produtos falsos, agora esse tipo de mercado migrou também para a Internet, onde tem um potencial ofensivo ainda maior.
Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas e da Interpol (polícia internacional), a pirataria representa 5% a 7% do comércio mundial, ou seja, mais de 600 bilhões de dólares por ano.
O Brasil não é um produtor, mas sim um consumidor significativo de produtos piratas. Mais de 75% dos produtos piratas consumidos no Brasil vêm de fora, especialmente do sudeste asiático. Os produtos pirateados mais produzidos em território brasileiro continuam sendo os CDs e DVDs.
Matéria publicada no site da Rádio da Holanda (Netherlands)
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