SAIBA TUDO SOBRE O TRAFICANTE CARIOCA TUCHINHA PRESO ONTEM EM ARACAJU



Tuchinha deixou para trás vida de grã-fino que levava em Aracaju, onde morava em mansão, usava carro importado e fumava charuto cubano. Ao chegar ao Rio, foi levado para cela de Bangu

Rio - Chefe do tráfico do Morro da Mangueira e integrante da cúpula da facção Comando Vermelho, Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, foi preso por agentes da Delegacia Anti-Seqüestro (DAS) e da Polícia Federal no início da manhã de ontem numa mansão em Aruana, em Aracaju, Sergipe. O traficante, de 43 anos, chegou ontem, às 17h35, ao Aeroporto Internacional Tom Jobim. Em duas horas e meia de vôo comercial, que atrasou 20 minutos, Tuchinha — um dos compositores do samba da escola este ano — conversou com os policiais e ficou sem algemas para comer barras de cereal.

Em Aruana, o traficante não tinha o que reclamar do conforto da mansão onde foi preso quando estava dormindo com a mulher e a filha, de 3 anos. A casa, em um terreno com mais de 1.500 metros quadrados, tinha piscina, três quartos e TV de plasma. Foi alugada por R$ 1,5 mil em nome do bandido — antes, ele havia ficado em outra cujo aluguel era de R$ 4,5 mil.

Mas o requinte também estava marcado nos hábitos de consumo. Havia caixas de charutos cubanos, chocolates finos e garrafas de uísque. Na garagem, dois carros de luxo avaliados em R$ 150 mil. Ontem, Tuchinha deixou o conforto de lado e, depois de desembarcar no Rio, fez exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML) e foi direto para uma das celas de Bangu 1, no Complexo de Gericinó, onde chegou às 20h40.

O cerco ao traficante começou a ser fechado segunda-feira. Em São Paulo, agentes ficaram hospedados em um hotel simples, mesmo lugar em que estava Ana Claudia Pereira de Carvalho, a Gracinha, mulher do bandido. Na quarta-feira, eles a seguiram no mesmo vôo para Aracaju. Ontem, a casa foi cercada por 30 policiais.

Desde dezembro, Tuchinha está sendo seguido. Viajou para Búzios, curtiu o Réveillon na Bahia e, a partir de 11 de fevereiro, passou a ficar apenas em Aruana. “Como ele não quis apontar os responsáveis pelo crime, eu disse: ‘Não prendi seus seqüestradores, mas prendi o seqüestrado’”, afirmou o delegado titular da DAS, Fernando Moraes, que começou a investigá-lo depois de o traficante ser vítima de seqüestro, há um ano.

Além de tráfico, Tuchinha também responderá por uso de documento falso — a polícia apreendeu carteiras de identidade e de motorista e CPF com foto do bandido, mas em nome de Felipe Augusto Maciel. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e o superintendente da PF no Rio, Valdinho Jacinto Caetano, fizeram questão de elogiar a parceria entre as polícias, embora o delegado da DAS não tenha participado da entrevista coletiva. “Temos parcerias para prender traficantes do Rio em outros estados”, anunciou Beltrame.

Segundo a polícia, o objetivo de Tuchinha era montar uma nova base do tráfico em Aracaju. “Ele queria fixar seus negócios no Nordeste. Com o Programa de Aceleração do Crescimento, acredito que muitos criminosos deixarão o Rio”, avaliou Fernando Moraes, referindo-se às obras nas favelas da Rocinha e nos complexos do Alemão e de Manguinhos.

Para prender Tuchinha e recolher documentos, os agentes conseguiram mandado de busca e apreensão na Justiça de Sergipe às pressas para entrar na mansão do bandido. Foram aprendidos ainda R$ 1.640, devolvidos à mulher dele.

Primeiro, Tuchinha foi para a PF de Aracaju. O superintendente da capital sergipana, Carlos Cota, classificou como vitoriosa a parceria entre as polícias: “A integração foi fundamental”. A ida de traficantes para o Nordeste preocupa o delegado. “Isso vem ocorrendo com freqüência”, avaliou. Esta semana, Tuchinha vai depor na 17ª DP (São Cristóvão).

Mês do desgosto

O ditado popular diz que agosto é o mês do desgosto. Para Tuchinha, esse mês é fevereiro. Foi numa Quarta-Feira de Cinzas de 1989, por exemplo, que o já responsável pelas bocas-de-fumo da Mangueira foi preso pela primeira vez. Pouco se sabia sobre o bandido até a 17ª DP (São Cristóvão) prendê-lo num Escort XR-3, quando chegava para comprar lancha na marina de Itaipuaçu.

Condenado a 43 anos de prisão por homicídio, Tuchinha só conseguiu a liberdade em julho de 2006. De Bangu, onde ficou 17 anos, ele saiu no Mercedes-Benz do advogado e seguiu para seu reduto. Mas em fevereiro do ano passado, foi seqüestrado. A partir daí, a Delegacia Anti-Seqüestro (DAS) começou a monitorar os passos do traficante.

Na época, Tuchinha curtia o verão numa mansão de R$ 1,5 milhão, alugada por R$ 3 mil, num condomínio de luxo no Joá. Ele caminhava diariamente até a Praia da Joatinga. Num desses fins de tarde, foi seqüestrado. Durante quase uma semana, foi mantido em dois cativeiros diferentes, um deles numa favela dominada por milícia na área de Jacarepaguá, o evidenciaria que o seqüestro seria ação de policiais.

O resgate foi pago em dólares, cordões, anéis e pulseiras de ouro. O total chegou a cerca de R$ 800 mil. Depois disso, Tuchinha construiu casa de frente para a Quinta da Boa Vista e passou a ficar confinado no morro.

Tuchinha reclamou que viu desfiles pela televisão

Na viagem ao Rio, Tuchinha desabafou com policiais que o escoltavam. Confessou que a Praia de Aruana foi o destino escolhido para viver com a família. Tranqüilo, o traficante-compositor contou — e reclamou — ter visto os desfiles das escolas pela TV e elogiou a beleza das mulheres da Mangueira. Afirmou ainda que queria sair do tráfico: “Perdi 3 sambas e agora que ganhei queria largar o crime. Não tinha nada a ver com isso”.

Além da mansão, usava dois carros de luxo: uma picape Nissan XTerra, 2007, comprada em nome da mulher, e um Polo do padrasto.

A operação para prender Tuchinha começou em dezembro. A polícia tinha informações de que ele passou o Carnaval no Rio e que retornou a Sergipe dia 8. O alvo era Gracinha, monitorada por agentes disfarçados.

Vinte policiais participaram da ação, que foi filmada. Ao perceber, Tuchinha escondeu a mulher e a filha no quarto e pediu: “Doutor, eu tenho família”. A casa foi revirada na busca por documentos, armas e drogas.

“Os policiais arrombaram as portas. Agora quero saber quem vai arcar com os prejuízos”, reclamou o dono da casa, que não se identificou.

Meses antes, em fuga, Tuchinha peregrinou pelo Morro Dona Marta, em Botafogo, a Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, Vitória — onde ficou na casa do traficante Élcio, do Morro do Tuiuti —, Brasília e Salvador.

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